Conheça nesse artigo o método mais recente utilizado em diversas pesquisas acadêmicas para produção do conhecimento nas diversas áreas de estudo: Método Praxiológico ou Teoria da Prática de Pierre Bourdieu. Saiba o significado e definição, quando este método surgiu e quais as influências teóricas que favoreceram sua elaboração. Fique por dentro!

Falaremos também sobre a utilização do método nas pesquisas acadêmicas, além de apresentar modelos de trabalhos científicos (PDF) com uso da metodologia de Bourdieu para você ter como exemplo e pensar como seria sua pesquisa científica com o método praxiológico ou Teoria da Prática.

Veja o que você vai encontrar neste artigo:

Método Praxiológico e teoria da prática

Como o sociólogo Pierre Bourdieu pensa sua Teoria da Prática (Método Praxiológico)

A Teoria da Prática de Pierre Bourdieu e o Conhecimento Praxiológico

O método praxiológico ou teoria da prática foi elaborado e pensado pelo filósofo Pierre Bourdieu. Pierre Bourdieu nasceu na França em 1930, em um vilarejo de Denguim. Essa sua origem e todo processo histórico da vida pessoal e acadêmica têm interferências profundas na construção do método de pesquisa acadêmica do autor. Ele se forma em filosofia, perpassa pela antropologia e, por fim, se firma na sociologia como campo de estudos.

O contato e a experiência com a antropologia se deram quando Pierre Bourdieu foi enviado à Argélia para cumprir com seus deveres militares, quando nesse contexto, teve a oportunidade de conhecer e estudar os Cabylas (trabalhadores rurais das montanhas argelinas).

Quando retorna da Argélia, Bourdieu instala-se na École de Hautes Études en Sciences Sociales (EHSS), criando a revista Actes de la Recherce, fazendo aí uma opção epistemológica que demarca, definitivamente, a sociologia como campo de conhecimento.

Durante os anos de 1960 a 1980, aproveitando os frutíferos debates proporcionados pelas publicações da revista, Bourdieu constitui seu método de trabalho que ele chama de conhecimento praxiológico, ou como é mais conhecido por autores brasileiros de teoria da prática.

Epistemologia e metodologia Bourdieu

As influencias na elaboração do método praxiológico de Pierre Bourdieu

Epistemologia e Metodologia de Bourdieu: influências teóricas para elaboração do método praxiológico

Para Bourdieu, há uma problemática que se torna central em seus estudos, que é a questão da mediação entre o agente social e a sociedade. O autor considera que o grande problema dos métodos epistemológicos é a oscilação entre dois tipos de conhecimentos: o objetivismo e o subjetivismo.

O subjetivismo se traduz a partir da fenomenologia, na experiência vivida pelo indivíduo. Já o objetivismo é responsável pela construção das relações objetivas que estruturam as práticas individuais.

É a partir da superação desta dicotomia que Pierre Bourdieu propõe uma terceira abordagem epistemológica no campo do conhecimento denominada pelo mesmo de conhecimento praxiológico. Esse conhecimento praxiológico é o entendimento das influências e imbricamento dos conhecimentos objetivos e subjetivos, que, para o autor, não devem ser entendidos de modo compartimentalizados e sim relacional.

Desse modo, para o autor existem então três tipos de conhecimentos: o Subjetivo, o Objetivo e o praxiológico (no qual seus estudos são caracterizados). Em um de seus escritos denominado de “Esboço de uma teoria da prática”, Bourdieu (1983, p. 47) define o que seria esse conhecimento praxiológico explicitando que:

[…] tem como objeto não somente o sistema das relações objetivas que o modo de conhecimento objetivista constrói, mas também as relações dialéticas entre essas estruturas e as disposições estruturadas nas quais elas se atualizam e que tendem a reproduzi-las, isto é, o duplo processo de interiorização da exterioridade e de exteriorização da interioridade: este conhecimento supõe uma ruptura com o modo de conhecimento objetivista, quer dizer, um questionamento das condições de possibilidade e, por aí, dos limites do ponto de vista objetivo objetivante que apreende as práticas de fora, enquanto fato acabado, em lugar de construir seu princípio gerador situando-se no próprio movimento de sua efetivação.

As bases para elaboração do Método Praxiológico de Pierre Bourdieu, das categorias e conceitos de suas análises foram fundamentadas em autoridades teóricas como Karl Marx, Max Weber e Émile Durkheim. Ao estudar profundamente cada um desses autores, Bourdieu faz aproximações teóricas e distanciamentos críticos de cada um deles.

Para o conhecimento praxiológico de Bourdieu, a problemática é encontrar a mediação entre agente social e sociedade e homem e história.

Assim, os estudos de Bourdieu não são considerados filosoficamente dentro do subjetivismo nem do objetivismo e o próprio autor ressalta o seguinte:

“SE eu gostasse de rótulos, diria que tento elaborar um estruturalismo genético: a análise das estruturas objetivas – dos diferentes campos – é inseparável da análise da gênese, no seio dos indivíduos biológicos, das estruturas mentais que são, em parte, o produto da incorporação das estruturas sociais e da análise da gênese destas próprias estruturas sociais.” (BONNEWITZ, 2003, p.16).

Significado de Teoria da Prática ou Método Praxiológico de Pierre Bourdieu para pesquisa acadêmica

O que é Teoria da Prática ou Método Praxiológico de Pierre Bourdieu?

Características do Método Praxiológico de Bourdieu

Pensar o método em Bourdieu é pensar teoria, método e metodologia, intrinsecamente vinculados, fugindo da aplicabilidade de conceitos pré-determinados cientificamente.

Para entender o que é o Método Praxiológico, ou mesmo compreender melhor o que é a Teoria Prática de Bourdieu, precisamos compreender suas características.

Para estruturar o processo de produção de conhecimento a partir de um olhar bourdieusiano, deve-se tentar desvelar o que se identifica como algo corriqueiro, comum, cristalizado, mas sempre de maneira sistemática, documentada de modo que seja mensurável, produzindo resultados confiáveis.

A metodologia em Bourdieu é uma busca constante de se criticar o que está instituído, o que se tornou senso comum.

Bourdieu propõe que o pesquisador não deve estar preso a regras metodológicas para estudar um objeto, pregando que é necessário um rompimento com um monoteísmo metodológico.

Características da Teoria da Prática de Bourdieu

O que caracteriza o Método Praxiológico de Bourdieu?

Há uma frase celebre dita por Bourdieu sobre a questão metodológica: “Apetecia-me dizer: «É proibido proibir» ou «Livrai-vos dos cães de guarda metodológicos».” (BOURDIEU, 1989, p. 26).

Essa frase não pode ser mal interpretada, pois o autor não quer dizer que não se deve ter uma metodologia consistente para estudar os objetos, pelo contrário, para o autor deve-se “[…] tentar, em cada caso, mobilizar todas as técnicas que, dada a definição do objeto, possa parecer pertinentes e que, dadas as condições práticas de recolha dos dados, são praticamente utilizáveis” (BOURDIEU, 1989, p. 26).

Essa liberdade metodológica proposta por Bourdieu tem como contrapartida uma extrema vigilância da forma de utilização das técnicas de pesquisa da adequação e das condições de uso destas ao serem empregadas no problema estudado.

Oliveira e Pessoa (2013) ressaltam que, por mais que na operação do método praxiológico não existam regras metodológicas fixadas, há conceitos que são de fundamental importância e que orientam a produção do conhecimento e do modo de pensar e agir na perspectiva bourdieusiana.

Esses conceitos e sua compreensão são chave para o entendimento e aplicabilidade do método, veja alguns mais importantes:

  • Campo;
  • Habitus;
  • Capital;
  • Poder simbólico;
  • Agentes e estruturas sociais;
Pierre Bourdieu: conheça seu Método e Metodologia

Método e Metodologia de Bourdieu

Método e Metodologia de Bourdieu

Há também alguns princípios característicos do fazer metodológico sob a perspectiva praxiológica, tais como o princípio da ação histórica (história que é objetivada nas coisas, sob a forma de instituições, história encarnada nos corpos), o princípio da objetivação que o pesquisador deve perseguir para conseguir se livrar dos determinismos do senso comum, dentre outros.

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A história encarnada nos corpos segue o princípio de que o corpo está dentro do mundo, mas que o mundo está dentro dos corpos. Essa ideia é fundante do conceito de habitus que, para Bourdieu, é o processo de uma interiorização da exterioridade (ou seja, incorporação de elementos externos na formação enquanto pessoa) e uma exteriorização da interioridade (que seriam as ações desferidas pelos agentes a partir daquilo que incorporou ao longo de suas vidas). O habitus constitui a essência da formação humana e as ações dela derivadas.

Já a noção de campo, para o autor significa pensar em espaços sociais que possuem características próprias e que podem ser reconhecidas ao serem estudadas como próprias daquele campo social. Há vários campos sociais, tais como o campo econômico, o campo científico, o campo religioso, o campo agrário, dentre outros.

Há uma série de conceituações que determinam o que pode ser considerado como um campo, para isso, sugere-se estudar com rigor os escritos de Bourdieu. Para o autor:

A noção de campo é, em certo sentido, uma estenografia conceptual de um modo de construção de um objeto que vai comandar – ou orientar – todas as opções práticas da pesquisa. Ela funciona como um sinal que lembra o que há de fazer, a saber, verificar que o objeto em questão não está isolado de um conjunto de relações de que retira o essencial das suas propriedades” (BOURDIEU, 1989, p. 26).

No interior de cada campo há agentes específicos e tensões próprias daquele campo, estando em um polo do campo os agentes e instituições que são mais capitalizados e em outro os agentes e instituições menos capitalizados. A tensão no interior desse campo é entre esses agentes e instituições que visam se capitalizar cada vez mais.

Todos os campos possuem limites, e Bourdieu (1989) ressalta que o limite de um campo é até onde produz efeitos, e ressalta que um “agente ou uma instituição faz parte de um campo na medida em que nele sofre efeitos ou que nele os produz”.

Para Bourdieu as estruturas objetivas, os modos de agir e pensar dos agentes sociais são construções sociais e, são essas estruturas que guiam e orientam as ações dos agentes sociais. Por isso mesmo que para Bourdieu não existe dissociação entre a objetividade e a subjetividade na construção de um objeto, para ele, há sim, uma relação dialética entre estrutura e agente social. É nesse contexto que os conceitos de habitus e campo ganham relevância.

O pensamento do autor é extremamente complexo e elaborado, é necessário para entender seu método que se compreendam os demais autores que foram basilares para que ele elaborasse seu método praxiológico. Além disso, claro, deve se ler suas obras e sua biografia de maneira aprofundada.

O método praxiológico (Teoria da Prática) na pesquisa acadêmica

A utilização do método praxiológico (Teoria da Prática) na pesquisa acadêmica

Como utilizar o Método Praxiológico ou Teoria da Prática de Bourdieu nas pesquisas acadêmicas?

O método praxiológico de Pierre Bourdieu ou Teoria da Prática é um dos métodos mais novos no âmbito acadêmico e, por isso mesmo, demanda um esforço intelectual alto para ser estudado, compreendido e utilizado.

Os pesquisadores ainda apresentam muitas limitações na sua utilização, mas têm sido crescentes as pesquisas que fazem uso desse método e do pensamento praxiológico de Pierre Bourdieu.

Esse método tem características próprias em sua aplicabilidade, pois visa superar a dicotomia existente entre os demais métodos como o positivismo e a fenomenologia, o materialismo dialético e a fenomenologia. Em suma, o método praxiológico visa superar a dicotomia entre subjetivismo e objetivismo arraigada no meio científico.

Para isso, o método Teoria da Prática estuda os fatos/fenômenos em sua relação dialética entre subjetividade e objetividade (ou o que o autor chama de interiorização da exteriorização e exteriorização da interioridade), bem como a influência de um aspecto sobre o outro, o que o torna extremamente complexo, mas altamente inovador e produtivo.

O método praxiológico estuda o real como relacional e estuda a realidade social a partir do que Bourdieu denomina de Campo, conforme explicitado anteriormente. Cada campo possui um movimento próprio devido a influência dos agentes e instituições sobre o campo e sobre eles mesmos.

A Teoria da Prática possui uma extrema flexibilidade metodológica, portanto, o pesquisador pode lançar mão de todos os instrumentos que julgar necessário, desde que esteja dentro dos rigores metodológicos científicos.

As técnicas de pesquisa não devem ser pré-determinadas e fixadas como algo estanque, elas devem ser pensadas anteriormente a ida em campo, como sugestão, mas, a ida em campo para (re)conhecimento do objeto é que é essencial para determinar as técnicas metodológicas para apreensão total do objeto.

Estudos que utilizam o método praxiológico ou Teoria da Prática são facilmente identificados pelo fato de explicitarem conceitos chave desse método, tais como: Campo, Habitus e Capital. Importante destacar que, vários conceitos bourdieusianos não possuem o mesmo significado que aqueles utilizados na teoria marxiana. O conceito de capital é um deles, que assume várias formas, como capital cultural, capital econômico, capital religioso, capital científico. O conceito de classe também possui outra conotação na teoria de Bourdieu. Sugere-se uma leitura aprofundada das obras do autor para melhor compreensão.

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Aproveite os modelos de pesquisas que utilizam o Método Praxiológico ou Teoria da Prática de Bourdieu

Exemplos do Método Praxiológico ou Teoria da Prática de Bourdieu em pesquisas acadêmicas

Segue abaixo alguns exemplos de estudos e pesquisas que utilizam a Teoria da Prática de Bourdieu e podem ser acessados para verificação de sua aplicabilidade em sua pesquisa acadêmica.

Os exemplos (alguns em PDF) foram pesquisados na plataforma Scielo. Se você tem interesse em conseguir uma pesquisa exatamente com seu tema, adquira aqui:

Espera-se que esse artigo tenha fornecido informações que facilitem o entendimento acerca do método praxiológico (Teoria da Prática) de Bourdieu. Ficou com alguma dúvida? Comente. Aprenda mais lendo nossos outros artigos abaixo.

REFERÊNCIAS

BONNEWITZ, Patrice. Primeiras lições sobre a sociologia de Pierre Bourdieu. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2003.
BOURDIEU, Pierre. Introdução a uma sociologia reflexiva. In: O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989, p. 17-58.
BOURDIEU, Pierre. Esboço de uma teoria da prática. In: ORTIZ, Renato. Bourdieu. São Paulo: Ática, 1983, p. 46-81.
OLIVEIRA, João Ferreira de; PESSOA, Jadir de Morais. Pesquisar com Bourdieu. Goiânia: Cânone Editorial, 2013. Cap. 1: O método em Bourdieu, p. 15-30.
ORTIZ, Renato (Org.). Pierre Bourdieu. Coleção grandes cientistas sociais. São Paulo: Ática, 1983.